Algema Digital

 

 

 

 

 

 

Tarde de 1998, 14 anos, via MSN:

-Me chama a hora que você for pra casa dá vó, blz?

-Blz.

-Você está no seu quarto?

-Tô. Por quê?

-A tá….

 

30 minutos depois… do quarto ao lado vem um grito:

– TÔ INDOOOOOO!!!!!!!

 

E foi assim que tudo começou, pelo menos para mim.

 

Hoje no WhatsApp rolam os mais diversos grupos: grupo da família (parte da mãe), grupo da família (parte do pai), grupo da academia, grupo do trabalho, grupo do trabalho (-chefes), grupo das amigas da escola, grupo da aula de dança, grupo da igreja, grupo da sacanagem (Sim…! OMG), grupo do sei lá mais o quê………. E assim vamos segmentando nossas relações cada vez mais rasas e com um volume de informação incrivelmente inútil.

 

Hoje sinto que abro o Facebook, como alguém que está com fome, mas não sabe bem ao certo o que quer comer. E o pior… a geladeira está quase sempre vazia.

 

Não reclamo por completo dessa mudança de relações que a internet proporciona. Confesso que a tecnologia me aproxima de muitas pessoas especiais que estão longe e das quais sinto falta.

Antes eu achava um absurdo quem deixava o celular em cima da mesa (do bar ou em uma reunião). Hoje em dia… não me incomoda mais como antes. E assim a vida vai seguindo. Vamos nos acostumando, e a sensação que tenho é que perdemos muito tempo olhando para essa telinha que não sai de nossas mãos. Perde-se um olhar, perde-se um sorriso, perde-se uma piada, perde-se um amigo, perde-se até mesmo um amor.

(Este vídeo mostra um pouco dessa realidade “Desconectando para se conectar” )

O ser humano tem o seu próprio tempo. E o tempo do ser humano não é o mesmo tempo da tecnologia. Hoje me sinto cobrada a ser produtiva 100% do tempo, a estar feliz 100% do tempo, a começar um relacionamento instantaneamente. Minha gente…. tudo isso leva tempo… tempo para nós mesmos, tempo para os outros. Não somos robôs.

Nos dias em que preciso de foco absoluto, me pego escondendo o celular dentro da gaveta e colocando no silencioso. Que libertação!

No começo da minha adolescência quando ainda não existia smartphone e eu não tinha dinheiro para por crédito no celular, eu me sentia “presa” e cobrada por ter hora para voltar para casa, por ter que ligar para meus pais depois de uma viagem dizendo que cheguei bem… e por aí vai. Hoje, o smartphone, apesar de ser  superrrr legal, resolver muitos problemas de nossas vidas, proporcionar novas experiências e etc… de vez em quando sinto que esse aparelho passou a ser uma algema digital, em muitos aspectos.

Esse aparelhinho sabe onde você está, sabe seu trajeto para o trabalho, sabe com qual frequência você frequenta os lugares, sabe a previsão do tempo, te acorda, te faz dormir, te faz rir, sabe seu nível de sedentarismo, entre muitos outros….

Experimenta não responder alguma mensagem no grupo da família no WhatsApp? “Já chegou?” , ”Avisa quando chegar! Manda foto da praia!”,  “Tá comendo o que?”,  “Me responde essa mensagem assim que acordar”.

Bom meus caros, por hoje, vou experimentar deixar meu celular descansar na gaveta até amanhã. Acho que o mundo não vai acabar. Qualquer coisa, liguem no meu telefone fixo, no número……..21……45………é……………… esqueci.

 

 Camila Bellacosa é colunista desse portal e pode ter acionada no camila.bellacosa@gmail.com

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