Vergonha alheia e bizarrices nas lojas Samsung? Não, isso é Brasil em estado bruto!
por @MarcosHiller
Entender o Brasil e saber ler nossa realidade exige reflexões profundas, essenciais e complexas. E as marcas que souberem decodificar essa realidade de forma cirúrgica são aquelas que vão se dar bem no nosso competitivo mercado. É uma compreensão difícil, mas uma marca está fazendo bem a lição de casa é a coreana Samsung. Nesses últimos dias, vimos aparecer nas nossas timelines as diversas performances que funcionários de lojas Samsung em vários shoppings do Brasil. Certamente, à revelia de Gerentes de Marca, e Brand Books e Guidelines Institucionais que certamente não iriam autorizar formalmente ações de PDV como essas, funcionários de diversas lojas, ensaiaram passinhos, coreografias, escolheram músicas que são hits nas rádios e protagonizaram uma espécie de flashmob tupiniquim nas inaugurações de novas lojas da Samsung. Alguns sites e portais djetivaram essas performances como “bizarrices”. Outro classificaram como “vergonha alheia”. Eu fiquei com vergonhas das pessoas que escrevem esses textos.
Oras, cara pálida! Pessoas que avaliam esses acontecimentos dessa forma pejorativa não conhecem o Brasil e esses míopes comentários simplesmente desconsideram um elemento chamado “diversidade social e cultural”. Interpretar essas dancinhas dessa forma é a mesma coisa achar que “Valeska Popozuda” não tem envergadura para ser tema de dissertação de mestrado. É a mesma coisa que classificar aqueles meninos dos rolezinhos como delinquentes. São performances e apropriações sociais que ilustram de forma sui generis o que é realmente o nosso país. Todos esses fatos, por mais esquisitos e, até mesmo pitorescos que possam parecer, se dão fortemente por conta de um elemento chamado: cultura. E a cultura de nosso país é muito rica, complexa e vasta. Estudar marketing, comunicação, branding e práticas do consumo em geral, nos requer cada vez mais na contemporaneidade que compreendamos a cultura do consumidor. E o que é a cultura? Nada mais é do que esse acervo de conhecimentos que modela e modula boa parte das relações sociais. Cultura é caldeirão formado por uma mistura de questões sociais, econômicas, políticas de um determinado grupo. E na cultura onde encontramos as respostas mais profundas para desafios e dilemas do processo de marketing hoje em dia.
O varejo brasileiro é muito convidativo e atraente mas também muito feroz e competitivo. Exige disciplina, metas diárias e controles precisos. Se não, a coisa não anda. As metas são agressivas. A cobrança em cima dessa moçada é enorme. Esses profissionais que trabalham em lojas de shopping são verdadeiros guerreiros, verdadeiros brasileiros. Levantam cedo, pegam busão lotado, suam a camisa de verdade, mas mais que isso, usam a criatividade para ralar no dia-a-dia e protagonizam essas fantásticas performances nas inaugurações das lojas. As marcas se esforçam para construir posicionamento de marcas maravilhosos e por meio de ações de vendedores de lojas nos rincões do Brasil é que vemos ações consistentes e que geram verdadeiras conexões de marcas com seus públicos-alvo. Vejo essas performances como algo inusitado, criativo, bem-humorado e um tapa na cara de muitas agências de publicidade e anunciantes que ficam tentando construir posicionamentos de marcas dentro do escritório, navegando no Google e com ar condicionado na cara. Entender as nuances e tessituras de um mercado exige ir a campo. Vamos pegar a etnografia emprestado de nossos amigos da antropologia e vamos às ruas. Entrar na cultura do nosso consumidor, conversar com ele, saber interpretá-lo de verdade. É dessa forma que se constroem conexões solidas com consumidores. Ferramentas mercadológicas, teoremas de Paretto, análise Swot, cinco forças de Porter, teorias de estratégia competitiva, os exaustivos quatro “pês” de marketing, entre outros modelos são fundamentais para entender os processos de marketing e consumo em dia? Acho que sim. Mas quer compreender um pouco mais a fundo as verdadeiras motivações, desejos e comportamentos das pessoas? Vá estudar a cultura. Tire o snorkell e coloque o tudo de oxigênio. E nada melhor do que se ancorar em outras áreas do conhecimento. O Brasil são vários Brasis.
A Samsung é o melhor e mais bem feito case de reposicionamento de marca que vimos no Brasil nos últimos anos. O que era a Samsung uns 5 anos atrás? Era apenas mais uma marca coreana careta. E o que é a Samsung hoje? É uma marca admirada, que fabrica produtos maravilhosos e que dialoga de forma impecável com os mais diversos públicos. Desde os mais pobrinhos até ricos que querem ter o espetacular smartphone Samsung Galaxy S5 nas mãos. Tremei, Apple!