Coitado dos Cigarros

por Marcos Hiller

O doutor Dráuzio Varella que me desculpe, mas nesse texto aqui vou levantar um ponto bastante polêmico. Por que tamanha proibição contra a indústria tabagista no mundo da comunicação? De anos para cá, em virtude de medidas legais, marcas de cigarros praticamente não podem mais se comunicar com o mercado. As únicas coisas que eles podem fazer se comunicar com o seu público é: por meio das embalagens (que são lindas na minha opinião) e de merchandising (promoção no ponto de venda).

A questão central que levanto perpassa por uma bela de uma discussão ética da propaganda: por que apenas as coitadas das marcas de cigarros não podem fazer propaganda? A resposta mais lógica é: porque cigarro mata. Pois bem. E o álcool da cerveja não mata e destrói famílias também? É pode comunicar à vontade. Se eu não me engano a AMBEV deve ser o maior anunciante do país. Skol colocou tempos atrás o Beto Barbosa dançando Adocica, a Devassa colocou a “nada devassa” Sandy em seus comerciais, e por aí vai. Vemos hoje na Itaipava a “Vai, Verão”E outros vários exemplos que martelam nossas cabeças todos os dias: deu duro, tome um Dreher, ou o vinho Salton todas às noites na taça no Ronnie Von, e até mesmo a verdinha Heineken na Champions League.

E McDonald’s pode se comunicar à vontade. E McDonald’s gera obesidade, entope artérias, e mata. Coca-Cola pode se comunicar à vontade, aquilo é altamente calórico e gera obesidade também, e mata. Cartão de Crédito chega a cobrar 14% de juros ao mês, e pode comunicar à vontade. E por que apenas os coitados dos cigarros são massacrados por legislações? Coitados dos criativos das agências de propaganda que devem se virar nos trinta para ‘driblar’ a legislação e criar formas de conectar ao seu público-alvo.

Indústria automobilística pode fazer propaganda à vontade. E acidentes de carro matam mais que cigarro hoje no Brasil. Esse critério é, no mínimo, esquisito. E apesar dessa castração publicitária, a marca Marlboro por exemplo figura na 8ª posição no último ranking de valor de marca da Millward Brown. Imagina se eles pudessem fazer propaganda? Seriam líderes?

Recentemente eu estava em Nova York e lá eles vendem diversos blends de Marlboro na farmácia. Sim, nas farmácias. E cada maço custa cerca de US$ 16 dólares. E por que é tão caro assim? Imposto? Não! Para inibir o fumo? Também não. Esse valor elevado se deve às indenizações milionárias que a indústria tabagista tem que pagar às famílias que perdem parentes por causa de doenças do fumo. Lá as famílias processam a Philip Morris por exemplo, e geralmente ganha em poucos anos. A indústria repassa essa conta altíssima para o consumidor final.

Não estou fazendo apologia ao fumo. Fumar é algo fora de moda hoje em dia, sobretudo no Brasil. E dentre as centenas de substâncias que contém o cigarro, até pólvora você encontra. Eu apenas acho que claramente a indústria tabagista é um belo de um boi de piranha. E eu não sou fumante, mas sou saudosista e gostava de propaganda de cigarro. Eu tenho um livro do Zaragoza da DPZ onde ele mostra campanha antigas da marca CHARM, coisa linda que eram aqueles posicionamentos. E eu tenho muita saudade do Hollywood Rock, do Free Jazz Festival e eu assistia o Cine Carlton. Que saudades!

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