Olhos nos olhos – quebrando barreiras
por Camila Bellacosa
Revi o filme argentino Medianeras dirigido por Gustavo Taretto e mais uma vez me extasiei com as metáforas apresentadas. O filme trata da Era do Amor Digital na metrópole Buenos Aires, mas acima de tudo, fala de um novo estilo de vida cada vez mais enraizado entre nós. Segue trecho:
“Há mais de 10 anos sentei em frente ao computador e tenho a sensação de que nunca mais levantei. Não sei se a Internet é o futuro, mas foi o meu (…). A Internet me aproximou do mundo, mas me distanciou da vida. Faço coisas de banco e leio revistas pela Internet…baixo música, ouço rádio pela Internet…compro comida pela Internet, alugo ou vejo filmes…converso pela Internet, estudo pela Internet… Jogo pela Internet, faço sexo pela Internet…
Estou convencido de que as separações e os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a abulia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a insegurança, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e empresários da construção.
Contra toda a opressão que significa viver em caixas de sapatos, existe uma saída, uma fuga, ilegal, como todas as fugas. Em clara contravenção ao código de planejamento urbano, abrem-se minúsculas, irregulares e irresponsáveis janelas que permitem que milagrosos raios de luz iluminem a escuridão em que vivemos”.
E acho que nesse contexto, vale a reflexão sobre até que ponto a tecnologia nos aproxima de nossa família, amigos e colegas de trabalho. A janela deprimente que dá para um pulmão sem ar no filme pode ser comparada com nosso computador – que se apresenta como uma janela para o mundo, mas as vezes acaba funcionando como uma barreira, um muro.
No trabalho, vejo pessoas naufragadas numa tormenta de e-mails. Dezenas de pessoas em cópia. Um volume gigantesco de informações (nem sempre úteis) indo e vindo sem parar. A minha sensação é que ações, planos e projetos simplesmente não andam como deveriam dessa forma.
Olhos nos olhos mudam tudo quando o assunto é negociação e solicitação. Aquele velho papo que gentileza gera gentileza, é real. Empatia também ajuda muito. É um jogo de conquista diário para ganhar a confiança e disposição daqueles que tornam seu trabalho viável.
Estou falando de desconstruir barreiras e um pouco da burocracia. De levantar da sua cadeira e ir conversar com o colega do departamento ao lado. Além de facilitar a vida, acabamos nos abrindo para o novo. Descobrimos que do outro lado do computador existem pessoas interessantes, que também curtem sair, bater um papo, dar risada. E com certeza, isso também abre portas para novos projetos, inclusive pessoais.
Que tal sair da cadeira e abrir uma janela verdadeira?
Para quem se interessou, o filme Medianeras está disponível AQUI.
Camila Bellacosa é colunista desse portal – camila.bellacosa@gmail.com