Redes Sociais NÃO deram voz a uma legião de imbecis

por Marcos Hiller

Nesse ano de 2015, o consagrado autor italiano e semioticista Umberto Eco declarou em “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis” (a matéria completa sobre essa fala dele foi publicada em diversos portais, leia aqui a matéria que saiu no Terra).

Quando li essa fala dele, fiquei perplexo. Achei que seria mais um boato de internet. Um fala dessa, carregada de preconceito, jamais poderia sair da boca de Umberto Eco, um dos maiores pensadores de nosso tempo, pensei comigo mesmo. Mas parece que ele disse isso mesmo.

Enfim, como que um estudioso e prestigiado pensador do calibre de Eco poderia afirmar algo tão míope sobre a espécie humana? Em meio à repercussão que a fala dele teve, uma me chamou muito a atenção. O professor Massimo di Felice, pesquisador e professor da ECA-USP, postou em seu Facebook uma resposta direta e extremamente precisa. Eu já era grande admirador do Prof. Massimo, fui aluno dele na ECA USP em 2012 quando cursei a disciplina “Novas Formas de Habitar”, e agora então me tornei mais fã ainda.

Massimo se ancora numa perspectiva teórica que eu mesmo relutei para aceitá-la. Nos meus últimos textos e até mesmo na minha dissertação de mestrado da ESPM eu classifiquei o termo “revolução” como algo muito exagerado para definir as transformações que presenciamos hoje no mundo por conta de como as pessoas estão se apropriando desses espaços comunicacionais chamados redes sociais. O professor Alex Primo da UFRGS foi um dos que me ajudou a desmistificar essa tal revolução que temos hoje, pois o uso desse termo faz com que acreditemos que o temos hoje nega o que veio antes. A própria professora Beth Saad da ECA USP me forneceu bastante lucidez e ajudou a abandonar o termo revolução. E a professora Gisela Castro da ESPM também me ajudou a enxergar e ler as atuais transformações tecnológicas do tamanho que elas têm. Revolução de Gutemberg sim foi uma revolução. Revolução Francesa sim. A Revolução Industrial sim foi uma revolução. O mundo era de um jeito e passou a ser outro a partir desses acontecimento. E o jeito anterior nunca mais voltou. E agora temos uma Revolução Digital em curso? Eu particularmente não acreditava nessa perspectiva.

Até mesmo Pierre Levy eu consultei recentemente no Facebook. Ele também não concorda com o termo revolução para caracterizar as transformações que presenciamos hoje, e me recomendou o uso do termo “mutation” (mutação). Mas a partir desse texto abaixo do Prof. Massimo, eu admito! Eu aceito sim e afirmo de boca cheia que temos hoje uma revolução digital em curso. Afinal, como ele mesmo diz, “somos enquanto conectados”. Vivemos hoje uma transformação de caráter ecológico.

Reproduzo aqui na íntegra o texto dele, uma espécie de “soco na cara” intelectual que o Prof. Massimo proferiu no rosto do autor de “O Nome da Rosa”:

“O que escapa ao prof. Umberto Eco e aos demais humanistas é que as redes e a internet nao sao apenas lugar de trocas de opiniões entre humanos, sejam este de classe A (os intelectuais e premio nobel) ou de classe B (o povão… a plebe…devem existir nesta classificação ate o de classe C, os índios e os tribais…etc). Nas redes digitais habitamos por meio de dispositivos de conexão que nos possibilita explorar as galáxias, conhecer o nosso planeta e a bio diversidade, criar negócios, fazer sexo, isto é, que nos conectam a tudo que existe. Na nossa época somos enquanto conectados. O mundo das redes não é mais um mundo antropomórfico, no qual o homem esta no centro do universo. A cultura humanista inventou um mundo que não existe mais… o mundo platônico das ideias, das cidades e do campo, o mundo dos premio nobel e das massas… o mundo do humano e da técnica. Este mundo que habita U. Eco é um mundo silenciado, ordenados, definidos e organizado pelos filósofos, defendido pelos guerreiros e reproduzidos pelas massas. A arrogância do Umberto Eco mostra o colapso final deste mundo e a derrota dos seus sacerdotes. Estamos diante de uma transformação ecológica que irá a tirar o humano do centro, exatamente como a revolução copernicana tirou a terra do centro do universo. Habitamos as redes, somos já um novo tipo de especie … não mais apenas homo-sapiens… mas jã algo mais… e consequentemente, também, algo menos…As redes digitais são um novo tipo de ecologia e não apenas o parlamento das ideias… Umberto Eco, tenha a honestidade intelectual de aposentar o velho mundo.”

Bravo, Prof. Massimo di Felice!

 

 

 

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