Sem WhatsApp não há vida?

Marcos Hiller

Foi incrível ficarmos algumas horas sem whatsapp. Digo isso não por apoiar a intenção judicial tacanha, mas creio essa medida foi interessante para evidenciarmos como muitos de nossa espécie humana hoje são viciados nesses novos meios de comunicação digital. Sim, há um viés patológico de dependências desses dispositivos e que nos exige reflexões.

Como assim ficamos algumas horas sem whatsapp? Como? Nós tivemos que ligar para dizer “eu te amo” ao invés do envio de uma simples mensagem? tivemos que ligar pra lembrar o cônjuge de comprar pão? E os meus grupos? Como eu fiquei algumas míseras e intermináveis horas sem me relacionar com eles? Como consegui expressar meus sentimentos sem os meus emojis favoritos? Como? Enfim, tive que recorrer à formas offline de relacionamento humano? Tive que voltar a decodificar a mensagem de outros seres humanos por meio de tom de voz e expressões corporais? Jura? Enfim, creio que essas são algumas questões que residiram as cabeças de milhões de usuários.

De modo que a forma com que nos apropriamos desses espaços está impactando as lógicas dos afetos? Quais seriam os efeitos danosos do uso irrefreado de sites de redes sociais? Até que ponto poderia se afirmar que as interações em aplicativos como Facebook, Instagram e Whatsapp intensificariam um espécie de autismo e desconexão social nas pessoas?  Essas são questões candentes, inquietações que levam muitos estudiosos a considerarem que estamos nos isolando do mundo real nas tão viciantes e onipresentes redes sociais digitais. Para revitalizar nossos vínculos afetivos interpessoais, valeria a pena pensarmos em um regime de desintoxicação por meio de abstinência digital? Embora considere um tanto radical essa medida, a julgar pelos resultados de minhas recentes pesquisas, entendo que os efeitos de longo prazo de nossas interações mediadas por dispositivos online necessitem ainda de muito estudo.

Nossa existência no mundo hoje está inexoravelmente ligada à conexão de internet, e essa medida judicial (repito, ao meu ver, extremamente retrógrada, tola e vil) nos evidenciou que: hoje cada vez mais tendemos a evitar o relacionamento humano, o contato, o toque, a pele, o encontro offline, o olho no olho, afinal tudo isso exige muito de nós. E há uma clara tendência de priorizamos o quanto mais online melhor. Eu quero e exijo meu whatsapp sempre comigo pois gosto de uma vida mais conveniente, menos custosa, mais barato. Sim, nossa espécie humana está em mutação. Eu acredito nisso.

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