Eu compartilho, tu compartilhas, nós compartilhamos e… só!

Vamos fazer um trato? Vou dizer o que eu penso, mas – por favor – não faça comentários, apenas curta. Esse parece, cada vez mais, o principal imperativo de quem usa o Facebook: falar sozinho, falar muito, falar mesmo. Ou então, ouvir pouco, ler menos, conversar nada.

A poucos dias do primeiro turno das eleições 2014, muitas pessoas buscam compartilhar em seus perfis suas preferências políticas e ideológicas. Nada mais natural do que isso numa democracia. O problema é que, dificilmente, essas mesmas pessoas estão abertas para o debate de opiniões divergentes.

Em um mesmo dia tive que explicar diversas vezes que o fato de eu comentar as opiniões opostas às minhas, expressas em publicações de amigos, não significava que eu estivesse brigando. Em um desses episódios, ao comentar uma postagem de uma amiga sobre determinado candidato, esta me respondeu que não queria brigar. “Nem eu. Isso não é briga, é apenas minha opinião, gosto do debate”, disse eu. Noutro momento, foi a minha vez de compartilhar uma notícia sobre política. Logo em seguida, um amigo comentou algo contrário e rapidamente se explicou: “Não é nada pessoal”. E não era mesmo.

Podemos expor nossa opinião sem agredir ninguém, certo? Esse é o primeiro pressuposto de um debate público: por mais que eu discorde de você, nós dois temos o direito de nos manifestarmos, com respeito. É o respeito, e a apresentação de argumentos, que vai garantir que o debate prossiga sem que descambe para agressões.

Nas últimas décadas, a Internet configurou-se, notadamente, como rico território para a pluralidade e para a disseminação de contrainformação, sendo uma extensão da esfera pública. Falar no Facebook,  portanto, ou em qualquer outra rede social digital, é falar em público – mesmo que para um seleto grupo. Quando bem aproveitada, tal plataforma pode influenciar uma rede de contatos e fazer com que contrainformações circulem e sejam levadas em consideração na hora de um indivíduo formar sua opinião.

No entanto, nota-se que, cada vez menos, as pessoas se atentam para isso e a potencialidade emancipadora da rede acaba naufragada nos mares narcísicos e intolerantes. Até que ponto compartilhamos assuntos só para que os outros curtam e não para que eles também participem da festa?

Parece que, na maioria das vezes, o “Eu” quer que o “Você” conheça determinada opinião, mas não está nem um pouco a fim de saber o que o “Você” pensa a respeito. Como é difícil “Eu” e “Você” conversarem.

 Diangela Menegazzi (diangelam@gmail.com) é colunista desse portal.

 

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