Silas e a língua do P
Silas Siqueira é um distinto jovem de 23 anos, nascido em Salvador, e um viciado assumido em Facebook. Fica conectado 24 horas por dia. Acorda de madrugada para rolar o dedo na sua timeline que, nas suas palavras, é um “lugar sagrado”. Silas tem uma estratégia de publicações muito bem definida. Ele simplesmente posta tudo na “Língua do P”. Hoje cedo, por exemplo, ele publicou: “pêbo pêa pêse pêma pêna, pêva pêmos pêma pêtar pêum pêle pêão pêpor pêdi pêa”. Ele aprendeu essa forma ligeira de escrever com uma tia avó chamada Soraya, quando ele tinha 12 anos. E desde então, virou craque nessa forma de construir frases.
A cada post publicado, Silas olha de minuto em minuto as novas curtidas. E vibra com cada uma delas. O problema é que, ainda que seja uma forma um tanto quanto diferente de construir sentenças, ninguém mais aguenta as quase 127 postagens em média que Silas costuma fazer num único dia. O que era meio previsível, está acontecendo, vê-se um número cada vez mais frequente de pessoas que deixam de seguir Silas e/ou param de ver os conteúdos do jovem soteropolitano. Ninguém mais aguenta aquela “forma clichê e pouco relevante” de usar o Facebook, como alguns mesmos alardeiam em conversas do chat. Na semana passada, simplesmente o número de pessoas que seguem Silas chegou a zero. Todos seus “amigos” deram um unfollow no rapaz.
Na tarde dessa segunda-feira, Silas foi encontrado morto na calçada em frente sua casa. O corpo estava deitado de bruços com sinais de estrangulamento e um bilhete deixado em cima de suas costas com os dizeres: “Língua do P de cú é rola!!!”. Um inquérito foi aberto.